sábado, 15 de setembro de 2012

ARTS AND CRAFTS (1880-1900)

 

A partir de 1880, surgiram na Grã-Bretanha diversas organizações e oficinas dedicadas a produzir artefactos em escala artesanal ou semi-artesanal, dentro do que se entende por movimento das Artes e Ofícios.
O movimento Arts and Crafts defendia o artesanato como alternativa à mecanização e à produção em massa industrial. o movimento busca revalorizar o trabalho manual e recupera a dimensão estética dos objetos produzidos industrialmente para uso cotidiano. 



Arts & Crafts (do inglês artes e ofícios, embora seja mais comum manter a expressão original) foi um movimento estético surgido na Inglaterra, na segunda metade do século XIX. Defendia o artesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa e pregava o fim da distinção entre o artesão e o artista ... O movimento de reforma Arts and Crafts — uma busca pelo «autêntico» e «significativo» — deve-se em grande parte à acção do artista, poeta, tipógrafo e agitador social William Morris.


Durou relativamente pouco tempo, mas influenciou o movimento francês da art nouveau e é considerado por diversos historiadores como uma das raízes do modernismo no design gráficodesenho industrial e arquitetura.
De acordo com Tomás Maldonado, o Arts & Crafts foi uma importante influência para o surgimento posterior da Bauhaus, que assim como os ingleses do século XIX, também acreditavam que o ensino e a produção do design deveria ser estruturado em pequenas comunidades de artesãos-artistas, sob a orientação de um ou mais mestres. A Bauhaus desejou, assim, uma produção de objetos feito por poucos e adquirido por poucos, nos quais a assinatura do artesão tem um valor simbólico fundamental. De forma ampla, a Bauhaus herda a reação gerada no movimento de Morris contra a produtividade anônima dos objetos da revolução industrial. 
Quando a produção industrial se tornava já um facto consumado, ele ficou aflito pelo mau gosto, a desumanização progressiva das condições de trabalho e a poluição ambiental.
Este repúdio levou-o a defender a promoção qualitativa da produção artesanal contra a produção industrial. Morris - e o movimento Arts and Crafts - não se distraía com meras ornamentações e chamava a atenção para os problemas estruturais.
Tentou fazer frente aos avanços da indústria e pretendia imprimir em mobiliários, texteis e objectos o traço do artesão e o artista , que mais tarde seria conhecido como como designer.
Arts and Crafts foi influenciado pelas ideias do romântico John Ruskin e liderado pelo socialista e medievalista William Morris.

Guildas e associações

  • Century Guild,
  • Art Worker’s Guild, Guilda dos Trabalhadores de Arte (1884)
  • Guild and School of Handicraft e
  • Arts and Crafts Exhibition Society, exposição quadrienal de móveis, tapeçaria, estofados e mobiliário, realizada em Londres.




Todas estas sociedades e associações foram inspiradas pelo exemplo de William Morris e dirigidas por designers como A.H. Mackmurdo (1851 - 1942), W.R. LethabyC.R. Ashbee e Walter Crane (1845 - 1915).
Em 1861, é fundada a Morris, Marshall, Faulkner & Co., especializada em mobiliário e decoração em geral: papel de parede, vidros, pratas, tapeçarias etc. O sucesso da empresa pode ser aferido pela sua ampla produção.
Dissolvida precocemente, em 1874, deixa sua marca, seja nos padrões de Morris para papéis de parede (Pimpernel, 1876) e naqueles idealizados por A.H. Mackmurdo - The Cromer Bird, 1884; seja nos trabalhos gráficos de Walter Crane, pioneiro da edição popular.
Crane e Burne-Jones ilustram diversos livros para a Kelmscott Press, editora fundada em 1890 por Morris.
Em 1871, a Guilda de S. Jorge, planeada por Morris, representa outra tentativa de conjugar o ensino de arte e uma nova forma de organização do trabalho. Tal experiência frutifica outras, como a Art Worker’s Guild e a Guild and School of Handicraft (1888).

Arts and Crafts Exhibition Society

Ainda em 1888, a Arts and Crafts Exhibition Society mostra trabalhos de vários adeptos do movimento.
Além de Morris e Crane, estão presentes na exposição o arquitecto e designer Charles Robert Ashbee (1863 - 1942), responsável por diversas residências da época, pela criação de jóias e por publicações da Essex House Press, inspirada na Kelmscott Press; o arquitecto e designer Charles F. Annesley Voysey (1857 - 1941), célebre pelas suas casas simples e modestas, pelos seus têxteis e papéis de parede; o arquitecto e estudioso de técnicas medievais de construção William Richard Lethaby (1857 - 1931), entre outros

Craftsmanship

Os protagonistas do movimento promoviam uma integração entre projecto e execução, uma relação mais igualitária e democrática entre os trabalhadores envolvidos na produção, e uma manutenção de padrões elevados em termos de qualidade de materiais e de acabamento, ideais estes que podem ser resumidos pela palavra craftsmanship, a qual expressa os conceitos de
  • um alto grau de pericia na execução e no acabamento artesanal
  • um profundo conhecimento do ofício.
Morris e o movimento Arts and Crafts inspiraram o Deutscher Werkbund e as Wiener Werkstätten.

A partir de 1890, o Movimento de Artes e Ofícios liga-se ao estilo internacional do art nouveau espalhando-se por toda a Europa: Alemanha, Países Baixos, Áustria e Escandinávia. Ainda que um sucessor do movimento inglês, o art nouveau possui filosofia um pouco distinta. Menos que uma atitude de recusa à indústria, a produção art nouveau coloca-se no seu interior, valendo-se dos novos materiais do mundo moderno (ferro, vidro e cimento), assim como da racionalidade das ciências e da engenharia. Trata-se de integrar arte, lógica industrial e sociedade de massas, desafiando alguns princípios básicos da produção em série, por exemplo, o emprego de materiais baratos e o designinferior. Como indicam a arquitetura, o mobiliário, os objetos e ilustrações realizados sob o signo do art nouveau - as cerâmicas e os objetos de vidro de Émile Gallé (1846 - 1904), os interiores de Louis Comfort Tiffany (1848 - 1933), as pinturas, vitrais e painéis de Jan Toorop (1858 - 1928) e outros -, o estilo visa revalorizar a beleza, colocando-a ao alcance de todos. A articulação estreita entre arte e indústria, função e forma, utilidade e ornamento parece ser o objetivo primeiro dos artistas.
A associação entre arte, artesanato e indústria está no coração da experiência alemã daBauhaus, fundada em 1919, que tem no movimento do Arts and Crafts um ancestral direto. Ao ideal do artista-artesão, defendido por Walter Gropius (1883 - 1969) desde a criação da escola, soma-se na experiência da Bauhaus a defesa da complementariedade das diferentes artes sob a égide do design e da arquitetura. O espírito que orienta o programa da escola ancora-se na idéia de que o aprendizado, e o objetivo, da arte liga-se ao fazer artístico, o que evoca uma herança medieval de reintegração das artes e ofícios. Nos anos 1920, as artes aplicadas encontram abrigo no estilo art deco. Aí, recoloca-se o nexo entre arte e indústria tendo a decoração como elemento mediador, na esteira das propostas art nouveau. Só que, no caso do art deco, as soluções indicam a preferência pelas linhas retas e estilizadas, pelas formas geométricas e pelo design abstrato, em consonância com as vanguardas do começo do século XX. As Oficinas de Artes e Ofícios, fundadas em Viena, em 1903 (Wiener Werkstätte) por membros da Secessão, por sua vez, visam fundir utilidade e qualidade estética de acordo com as propostas de Morris. Esperam também, como ele, atingir um público mais amplo, o que efetivamente não ocorre. Os objetos de decoração de interiores (mosaicos, sobretudo), além de jóias, trabalhados de perto com o ideário art nouveau, produzidos nas oficinas (fechadas em 1932) se mantêm restrita aos círculos de elite. As oficinas, às quais aderem artistas como Gustav Klimt (1862 - 1918), Josef Hoffman (1870 - 1956) e Oscar Kokoschka (1886 - 1980), são responsáveis pela substituição das linhas curvas e retorcidas do art nouveau pelas formas geométricas e retilíneas, que se tornam a marca distintiva da arquitetura e das artes decorativas vienenses, a partir de então. Na arquitetura norte-americana, o nome de Frank Lloyd Wright (1867 - 1959) deve ser lembrado pelo seu débito explícito em relação ao movimento Arts and Crafts e às idéias de Morris. Nas concepções e construções de Wright observa-se o mesmo gosto pela natureza (sua preferência pelos subúrbios e pelo modelo das casas de fazenda), pela simplicidade e pelo artesanal, que ele combina livremente a materiais e técnicas industriais em projetos como as séries de Prairie Houses, dos primeiros anos do século XX
A despeito do impacto estético do trabalho de Morris, seu projeto não logra a tão almejada popularização dos produtos. De qualquer modo, o legado do movimento Arts & Crafts pode ser aferido até hoje, em todo o mundo, pela propagação de estúdios de cerâmica, tecelagem, joalheria e outros e pela organização de diversas escolas de artes e ofícios. No Brasil, especificamente, o Liceu de Artes e Ofícios, criado em diversas cidades (Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), encontram na experiência do Arts & Crafts e na valorização do trabalho artesanal no interior da indústria de feição capitalista um modelo a ser seguido. As artes decorativas e aplicadas têm lugar assegurado no seio do modernismo de 1922 com os trabalhos - pinturas, tapeçarias e objetos - de John Graz (1891 - 1980) e dos irmãos Regina Graz (1897 - 1973) e Antonio Gomide (1895 - 1967). Anos mais tarde, a proximidade entre arte e indústria é reeditada no interior do grupo concreto paulista, na década de 1950. Aí se destaca o nome de Geraldo de Barros (1923 - 1998) por suas afinidades com a fotografia, com desenho industrial e com a criação visual, sobretudo a partir de 1954, quando funda a cooperativa Unilabor e a Hobjeto, dedicadas à produção de móveis. A Form-inform, também fundada por ele, destina-se à criação de marcas e logotipos. Esses poucos exemplos, ainda que muito distintos em suas concepções e realizações, podem ser vistos como tentativas de atualização do ideário do Arts & Crafts e de sua filosofia da inseparabilidade entre artes visuais e artes aplicadas


Linhas orgânicas, curvas e ondulantes que sugerem movimento são as características do movimento Art Noveau



Fonte : http://tipografos.net/designers/index.html


4 comentários:

  1. _As guildas eram associações de profissionais surgidas na Baixa Idade Média (séculos XIII ao XV). O surgimento das guildas estava relacionado ao processo de renascimento comercial e urbano que ocorreu neste período.
    _Existiam guildas de alfaiates, sapateiros, ferreiros, artesãos, comerciantes, artistas plásticos entre outros profissionais. As guildas tinham como objetivo principal a defesa dos interesses econômicos e profissionais dos trabalhadores que faziam parte delas.Para manter o funcionamento destas associações de mutualidade, os trabalhadores associados eram obrigados a pagar uma determinada quantia.
    _Além das guildas, existiam também as hansas na Idade Média. Estas eram associações de comerciantes que dominavam determinados segmentos do comércio. A mais conhecida foi a Liga Hanseática, formada por várias cidades mercantis, que dominou o comércio na região norte do continente europeu no final da Idade Média.

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  2. O design do movimento Arts and Crafts se caracterizou pela:
    *simplicidade vs. complexidade no ornamento
    *sistema de grêmios vs. sistema industrial
    *acabado artesanal vs. acabado industrial

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  3. A missão social do movimento era dar solução aos males da Revolução Industrial: melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, levar a cultura a todos e restabelecer aunião das artes e os ofícios perdida desde o Renascimento.
    Todas as peças feitas nos estúdios do Arts and Crafts seguiam os princípios estabelecidos por Morris:
    -considerar o material (qualidade e nobreza)
    -considerar o uso (função)
    -considerar a construção (design)
    -considerar a ferramenta (técnica)

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  4. O movimento Arts and Crafts de Morris teve o apóio da monarquia vitoriana e teve grande sucesso entre a burguesia rica. A marca registrada da oficina de Morris e arquitetos era a alta qualidade artesanal dos produtos. Isto encarecia muito os objetos frente àqueles que produziam as fábricas. O sonho de Morris de oferecer ambientes e objetos altamente estéticos a todos não era possível. Só os ricos podiam comprá-los. Mas o gosto pelos objetos Arts and Crafts cresceu e se estendeu na Alemanha e nos Estados Unidos onde se publicaram revistas especializadas que atingiam um grande público feminino.

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